quinta-feira, 26 de junho de 2014

Lobisomem


Escondeu-se atrás das árvores... Era a sua oportunidade de assustar aquela criancinha... Aproximou-se muito devagar, bem devagarinho... Tentou não fazer barulho... Preparou-se... E na hora H... A rapariga desatou a rir-se!
O lobisomem ainda tentou ser mais assustador: rugiu, mostrou os dentes e deu traques violentos. Só que a criança não conseguia parar de rir... Ria, ria e ria! Desalmadamente!
O Lobisomem Careca encolheu os ombros. Sempre desejara assustar pessoas. Nada o faria mais feliz, mas se até as crianças gozavam com ele... Desistiu... O melhor era mudar de profissão! Ou não! Pensando bem, ainda não experimentara uma peruca...!


quinta-feira, 19 de junho de 2014

Sobressalto


O coelhinho de Passos Largos e Vista Curta fez por arranjar um novo emprego: uma grande oportunidade de carreira, que assumiria de forma altruísta, garantia, tendo sido obrigado, para tal, a mudar o seu percurso diário.
Confiante nos seus conhecimentos de geografia, traçou um novo caminho. Mas logo no primeiro dia esbarrou, sem mais nem menos, num enorme pedregulho. Ficou admirado. Nunca dera por tal! Tentou contorná-lo, mas o calhau era demasiadamente grande e não encontrou outra solução senão escalá-lo.
No dia seguinte, aconteceu-lhe a mesma coisa. Estranhamente, o pedregulho decidira permanecer ali, mesmo no meio da sua rota! Começou a andar em sobressalto. Todos os dias de manhã acordava angustiado, perguntando-se se aquela pedra ainda estaria no mesmo lugar.
Os outros coelhinhos tentaram explicar-lhe que o pedregulho sempre ali estivera, que era da sua natureza não se mexer sozinho e que haviam outras alternativas ao percurso diário que ele fazia.
Mas o coelhinho de Passos Largos e Vista Curta, teimoso, não queria encontrar outro caminho, pois aquele era o mais rápido... Achava ele... E insistia, e por isso todos os dias chegava cada vez mais atrasado. Claro que, para o coelhinho, o seu problema estava naquele pedregulho... uma pedra no seu "sapato"!

quinta-feira, 12 de junho de 2014

0 senhor 8

Já em casa, o 8 olhou-se ao espelho: tinha a sensação de até ser um número bastante perfeito, sendo redondinho e lembrando o infinito. Ocupava, inclusivamente, um elevado estatuto dentro do grupo das unidades, mas mesmo assim, não conseguia deixar de sentir uma pontinha de inveja do número 9. É que o 8 era quase o mais alto deles todos... só que lhe faltava o quase.


Então, mesquinho e ganancioso, o número 8 andava a tentar perder um bocadinho de si, só o suficiente para passar a ter uma bola e uma perna como o 9, em vez das suas duas bolas. Deitado na cama, todas as manhãs ele fazia exercícios, com grande esforço.


Mas um dia, ao acordar, percebeu que tinha perdido uma das suas bolas... Passou a ser um 0, e toda a gente sabe que ser 0 é não ser nada. Sentiu-se infeliz e frustrado: como é que tinha chegado àquela situação? Com o tempo, foi reconhecendo que tinha sido prejudicado pela sua inveja e ganância. Perdera tudo e agora já só queria voltar a ser alguém, mesmo que pequenino, e ser feliz com isso.


Um dia, decidiu visitar o seu vizinho 1, que morava ali tão perto. Simpatizaram um com o outro e o 0 ganhou um novo amigo com quem conversar. Descobriram que juntos formavam um 10. Unidos podiam não ser um grande número, aliás, o mais baixo das dezenas, mas valiam mais do que separados. E para além disso, a amizade não tem valor!




domingo, 1 de junho de 2014

Raiz-do-chão, raiz-do-céu



Quando a raíz-do-chão tocou sem querer a raíz-do-céu, uniram-se dois mundos num só: o das árvores práticas, com os "pés" bem assentes na terra e concretizadoras; e o das árvores teóricas, sonhadoras e idealistas por natureza, com múltiplas perspectivas sobre a terra. E só então, o Mundo se sentiu completo.