quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Chuva molha tolos



Parecia que sempre ali tinham estado, quietos e monocórdicos. Ninguém sabia de onde tinham vindo nem como tinham aparecido. Tinham-se simplesmente instalado na vida das pessoas. Encontravam-se em todo o lado. Enfeitavam os melhores restaurantes, as enormes casas, os hotéis luxuosos e as lucrativas empresas.
Esperara-se deles grandes inteligências, em proporção ao tamanho das suas cabeças, mas na verdade não se dera por nada. Andavam por ali, os cabeçudos, sem grande utilidade, integrando um qualquer mobiliário urbano móvel.
Um dia vieram as chuvas torrenciais. O pânico generalizou-se pela cidade. As pessoas correram aflitas nas direcções mais impróprias tentando proteger-se, enquanto os cabeçudos permaneciam na ilusão de que fazia sol. Não davam por nada. Nem uma qualquer reacção tiveram. Tentaram chamá-los à razão, pediram-lhes que saissem da chuva, mas os cabeçudos continuaram na sua vida, de um lado para o outro, parecendo atarefados a fazer nada.
E enquanto se encharcavam e ensopavam, o resto das pessoas passeava na rua, aproveitando para se resguardar por baixo deles:
- Venha, cabeçudo! Tenho que ir apanhar o táxi!
- Eu preciso de ir ao supermercado! Acompanhe-me, cabeçuda!
Afinal, aquelas monstruosas cabeças até serviam para alguma coisa. Davam óptimos chapéus-de-chuva! E a chuva? Essa agora só molha tolos!


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