sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O aspirador de Santa Augusta



Há muito que esquecera a sua tarefa: limpar, limpar, limpar. O mundo estava poído e sujo. As teias coziam buracos em erupção e as poeiras pairavam na atmosfera. Sim, estava na altura de limpar.
Agarrou no seu aspirador topo de gama e começou a sugar. Quase dois milénios de abandono deixariam marcas no mundo, sem dúvida! Sugou, sugou, sugou até que o seu aspirador deixou de trabalhar. Parou sem dizer nada, exausto, pronto a arrebentar. Que máquina poderia aguentar tamanha sujidade? E o mundo ainda com tanto por limpar!
Foi buscar outro aspirador, um mais velhinho mas que haveria de desenrascar. Porém, o aspirador assustado correu para Lisboa e decidiu mudar de vida. Transportar pessoas da baixa da cidade para o alto das colinas pareceu-lhe tarefa muito mais importante e própria para um aspirador.
Santa Augusta desesperou mas tentou ser justa. Se era essa a verdadeira vocação do aspirador, como exigir que ele fosse outra coisa?




Foi mudar o saco do topo de gama e aguardar que este recuperasse:
- Oh, céus! Se é a humanidade que suja, não cabe à humanidade limpar o seu lixo e assumir a sua responsabilidade de uma vez por todas?
Levantou-se e foi-se embora. Este não era trabalho para uma santa!

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